A EENM no fortalecimento muscular

Princípios
A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) “é a ação de estímulos elétricos terapêuticos aplicados sobre o tecido muscular, através do sistema nervoso periférico íntegro” (APTA, 1990). Há várias décadas, especialistas em Fisioterapia, Medicina Esportiva e Fisiologia do Exercício têm expressado o seu interesse na utilização desses estímulos como coadjuvante dos exercícios, na cura de enfermidades e na melhora do condicionamento físico humano.

Nos últimos anos, vários autores avaliaram os efeitos da EENM na recuperação da força muscular e, de modo geral, há ainda muita polêmica quanto à indicação e eficácia deste recurso. Um dos aspectos que impedem essa avaliação é a dificuldade em se comparar os resultados de diferentes estudos apresentados na literatura, realizados com parâmetros distintos, tanto no que se refere à EENM, quanto aos protocolos de exercício utilizados (para revisão, leia Brasileiro e Salvini, 2004).

As dúvidas que envolvem o uso da EENM na prática clínica concentram-se, sobretudo, na sua capacidade de produzir níveis de contração que induzam ao fortalecimento. Ganhos de força com EENM têm sido observados apenas em protocolos que atinjam níveis percentuais de torques maiores que 50% da capacidade voluntária máxima (Hortobagyi, 1992, Lieber, 1996). Desta forma, intervenções que produzam baixos níveis de contração seriam ineficazes no processo de fortalecimento muscular.

A capacidade de geração de força constitui-se assim, em um dos pré-requisitos para a eficiência dos equipamentos de EENM. Essa capacidade seria dependente tanto da ativação direta de grandes unidades motoras, como do efeito facilitatório produzido pelo feedback sensorial, sobre os grandes neurônios motores, conforme proposto por Trimble e Enoka (1991).

O fato é que os estudos atuais demonstram que o uso da EENM, com objetivo de aumentar a força de um músculo saudável, raramente apresenta resultados melhores do que os obtidos por meio dos exercícios voluntários (Swearingen, 1999, Brasileiro e Salvini, 2004). Delitto (2002) observa claramente um atual redirecionamento do uso da EENM, que passa a ser considerada um coadjuvante dos programas de fortalecimento em populações com desordens músculo-esqueléticas.

A justificativa para a maior efetividade dos programas de reabilitação que incluem EENM, estaria apoiada na inibição reflexa do músculo, que freqüentemente ocorre após traumas e procedimentos cirúrgicos (Urbach, 1999, Konishi et al, 2002). Os indivíduos teriam uma reserva funcional de unidades motoras morfologicamente normais, que não seriam ativadas voluntariamente, mas que poderiam ser recrutadas por meio da EENM. Isso permitiria ao sujeito exercer uma maior força contrátil durante a associação desta com os exercícios voluntários, o que equivaleria dizer que, um maior número de fibras musculares estaria sendo recrutado através desta sobreposição. Desta forma, os efeitos deletérios do desuso seriam minimizados (Hortobagyi et al, 1992).

Willians et al (1986), um dos primeiros a avaliarem os efeitos da EENM em pacientes com cirurgias de menisco, observaram que o grupo que associou EENM aos exercícios voluntários teve ganhos de força significativamente maiores que os obtidos no grupo apenas exercitado.

Snyder-Mackler et al (1994), após observarem os resultados de 52 sujeitos submetidos à reconstrução do LCA, recomendaram o uso da EENM associada ao exercício voluntário, sobretudo nas fases iniciais de treinamento.

Delitto et al (1988) observaram que os resultados de pacientes submetidos a programas de reabilitação com o uso da EENM contrastavam com estudos prévios realizados em indivíduos saudáveis. Analisando dois grupos de pacientes submetidos à reconstrução do LCA, um treinando apenas com EENM e outro somente com exercícios voluntários, os pacientes do primeiro grupo terminaram o regime de treinamento com maior percentagem de força, tanto para o grupo extensor como para o flexor do joelho. Os indivíduos se encontravam entre a 2ª e a 3ª semana após a cirurgia.

Snyder-Mackler et al (1994) analisando a curva dose-resposta para os regimes de EENM no quadríceps femoral, em indivíduos entre a 2ª e 6ª semana após a reconstrução do LCA, observaram ganhos significativos na força do músculo quando intensidades próximas a 70% da contração voluntária máxima do membro não acometido foram produzidas pelo membro acometido. O princípio da sobrecarga de treinamento seria assim mantido para os exercícios estimulados eletricamente, ou seja, o estimulador deve ser capaz não só de gerar um percentual significativo da contração voluntária nas fases iniciais do tratamento, mas estar apto para continuar produzindo altas forças contráteis durante todo o processo de recuperação.

A justificativa para o uso da EENM nos programas de reabilitação seria que uma alteração no recrutamento de unidades motoras, morfologicamente normais, seria a causa primária da perda de força voluntária observada nos membros acometidos dos indivíduos. Essas alterações seriam causadas por uma ruptura no feedback sensorial e pelo próprio desuso, e a EENM corrigiria esse déficit de ativação, já que o seu recrutamento independe do controle voluntário. Essas proposições explicariam o sucesso dos programas que fazem uso da EENM quando comparados aos grupos que utilizam apenas exercícios voluntários.

Em contraste, nos estudos envolvendo sujeitos na etapa tardia da reabilitação, os efeitos da EENM sobre o aumento da força são bastante limitados. Após esse tempo de recuperação, os programas de exercício voluntário podem compensar alguma possível diferença na restauração da força muscular. Desta forma, nossa experiência na área tem demonstrado que a EENM estará indicada como coadjuvante dos exercícios voluntários, naqueles sujeitos onde possíveis mecanismos inibitórios ainda estejam presentes. Normalmente isto ocorre nas etapas iniciais da reabilitação.

Introdução l Parâmetros l Tipos de EENM

Eletrodos de Estimulação l Referências Bibliográficas